quinta-feira, julho 17, 2008

Os três livros da vida


Hyram era um jovem talentoso cuja sina o fizera atravessar a vida, quer por encruzilhadas, quer por caminhos mais ou menos agrestes. Quisera o destino que encontrasse abrigo e aconchego num templo local após ter perdido quase toda a família devido a epidemia que assolara a região.
Frequentemente a saudade dos seus levava-o a sentar-se olhando o horizonte, fazendo do céu e da terra companheiros de uma conversa muda que só ele ouvia através do silêncio que era a língua base de tantos diálogos que tinha consigo próprio.

Foi num desses momentos que um dos sacerdotes se aproximou de Hyram, perguntando-lhe em que pensava.
- Em que pensas meu filho ? Questionou o sacerdote, ajeitando a túnica branca que fazia coro com os cabelos da mesma cor que lhe decoravam a cabeça, como uma aura que o sorriso sempre presente ajudava na presença e no aconchego que as mãos traduziam em gestos brandos enquanto pousavam nos ombros do jovem.

- Em nada em especial. Lembro-me da minha terra e da minha família e amigos. Lembro-me do que estou aqui a aprender e penso no que poderei vir a fazer na vida. Penso na solidão fria que sinto à noite e no calor dos dias em que aqui estou com outros como eu. Penso no que não tenho e quero ter e penso no que tenho e não procurei.

- Sabes meu filho, a vida é feita de três livros, todos eles com capas iguais. O primeiro tem apenas as imagens do passado que se tornam nas recordações que guardas contigo. O segundo descreve o presente e o modo como vais vivendo cada um dos teus dias e o terceiro tem informações sobre o que será a tua vida no futuro. Em cada momento deverás saber qual deles queres ler.

- E como vou saber qual devo ler ? Questionou Hyram ao sacerdote ancião, com o olhar admirado que os olhos negros dirigiam numa atenção que denunciava a busca do conhecimento daquele jovem sedento do saber, qual andorinha em busca de água e terra com que haveria de construir o ninho que formava a vida.

- Sabes, quando és jovem, as recordações ainda são poucas e quase sempre são ensinamentos importantes a recordar e deve ser esse o livro a ler. A meio da vida deves viver intensamente sobretudo o dia a dia, que é sempre curto, recordando apenas as boas recordações entre as tantas que te fazem o conhecimento e não descurando todo o futuro que ainda te aguarda. Quando já fores idoso, vive sobretudo a vida que te resta no futuro que entretanto se tornou mais pequeno, procurando saborear a vida como o mais suculento e maduro dos frutos sagrados.

- Entendi. Mas como vou identificar qual o livro que devo escolher ao longo da vida ?

- É fácil meu filho, dos três livros, deves escolher o que tiver menos folhas para ler em cada fase da tua vida.

3 comentários:

cαтια. disse...

O meu livro do presente é o que tem menos folhas para ler.
Adorei o texto e a mensagem.

O Profeta disse...

Um granfde texto...como grande é o teu talento...


Abraço

Sha disse...

Que a vida, tua e dos teus, te seja sempre de fácil e serena leitura.