quarta-feira, março 19, 2008

Pai, no dia ...


- Pai toma é para ti.
O passo era apressado e as mãos pequeninas traziam dois embrulhos, num cuidado que justificava toda a pressa do mundo. Aqueles pequeninos olhos castanhos ganhavam agora o tamanho da lua e o sorriso que os acompanhava era bálsamo para todas as maleitas do corpo e da alma que assim se juntavam na árdua tarefa de descobrir o que naquelas prendas se adivinhava.

- Ena pá, duas prendas, que bom.
- Sim pai, esta fui eu que fiz na escola e esta fui eu que comprei.
As mãos do pai aplicaram-se no retirar a fita-cola e no abrir o papel de embrulho dobrado com cuidado, enquanto a face do filho denunciava um crescente de inquietação e ansiedade.

- Rasga o papel, pai.
Era a ordem suprema de quem não suporta a espera da surpresa a causar no remate do evento.

- Olha que giro, um coelhinho da Páscoa e está mesmo bem feito.
- Abre a outra também, pai.
A tarefa de abrir o embrulho repete-se, assim como a ansiedade do filho, que não tarda na exigência da pressa de rasgar o papel que divide a surpresa do espanto de a conhecer.

- Olha que bonito baralho de cartas, e tem nas costas o dizer “Pai tu és o meu herói”.
- Sim pai e agora podemos jogar os dois com elas.
- Sim podemos, hoje e sempre.
O momento ia-se consumindo nos dois sorrisos cúmplices que abraços e beijos selavam em segundos de oiro que elevavam quaisquer prendas à condição das mais belas jóias, das que nenhum ourives seria capaz de reproduzir que não fosse somente na condição de Pai.

- E tu pai, que prenda deste ao teu ?
Primeiro fez-se silêncio, depois as palavras foram substituídas por um abraço apertado e um beijo sentido, agora que a alma os emprestava no tempo e no espaço.

sábado, março 08, 2008

Dia Internacional da Mulher


Foste tu quem me agarrou mal nasceu, ainda com a pele imaculada de quem saiu da escuridão e recebeu a luz enquanto te repousaram sobre o peito de tua mãe, onde te aconchegaste no mais sagrado dos colos, imune na condição de Filha.

Foi a ti que dei a mão, quando juntos brincámos nos quintais da inocência enquanto crescíamos, cientes de que nunca seríamos mais velhos que tu, eterna Irmã.

Foi para ti que corri, sempre que o meu coração batia mais forte e de mãos dadas fomos descobrindo o mundo pelas estradas da vida, olhando para tudo o que os nossos corações viam mais além de seres a melhor Amiga.

Foi contigo que descobri que o coração sonha mais alto que os homens e que as mãos se dão num desejo comum, partilhado a dois, quando te tomei nos braços como eterna Namorada.

Foi para ti que em silêncio olhei, no encanto dos sentidos, enquanto bordava momentos de prazer com os teus cabelos de seda e te olhei os olhos numa face de menina, enquanto te chamava de bonita e te tomava no lugar de Esposa.

Foi contigo que contei todos os dia quando a vida me pedia mais do que a alma consentia e as mãos deixaram de estar vazias quando te vi no lugar de Companheira.

Foi a ti que me agarrei mal nasci, ainda com a pele imaculada de quem saiu da escuridão e recebeu a luz que encontrei no teu sorriso enquanto me repousaram sobre o teu peito, onde me aconcheguei no mais sagrado dos colos, o de Mãe.

Seja a ti quem os meus olhos por último vejam quando se fecharem, como foi no princípio do meu ser e o meu templo sagrado se eleve aos deuses, quão sagrada és Mulher.