terça-feira, fevereiro 27, 2007

Porque hoje não é dia mundial da criança


Porque hoje não é dia mundial da criança, a fome,a guerra e os maus tratos dissolvem-se no esquecimento da nossa consciência.

As crianças como esta não estão presentes nas reuniões dos partidos.
As crianças como esta não fazem parte dos governos.
As crianças como esta não estão nos clubes de futebol.
As crianças como esta dão a vida às armas dos soldados.
As crianças como esta dão o sangue aos políticos dos países.
As crianças como esta não nos templos de adoração.
As crianças como esta não estão nos corações dos homens.

As crianças como esta estão no meu coração, porque são também meus filhos.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Qual o pecado de Cristo ?


A multidão perfilava-se para apredejar aquela mulher, acusada de adultério e que respondia pelo nome de Maria Madalena.

Surge de repente um homem conhecido por todos, que interpondo-se, intervém dizendo "Aquele que nunca pecou que atire a primeira pedra".

Porque não atirou Cristo a primeira pedra ?
Qual o "pecado" de Cristo ?

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Homem caído


Na avenida, a passadeira de peões tornou-se a maca improvisada pela má sorte, onde um homem jaz de bruços, inerte e indiferente aos chamamentos dos que o rodeiam.
O cabelo grizalho sobressai no cinzento escuro do pavimento, agora ainda mais escuro pela chuva miúda, onde uma pequena poça vermelha, denuncia a ferida, resultante do embate da cabeça durante a queda.

Enquanto uns procuravam confortar aquele homem à espera de socorro, outros faziam coro na assistência que, ora se indignava na longa espera da ambulância, ora avançavam com diagnósticos ao sabor das vontades.
Um homem jovem, indiferente ao frio e à chuva miúda a que dois chapéus de chuva procuravam poupar, despe o casaco com que cobre aquele corpo caído que teimava no silêncio e na imobilidade apenas contrariada pelo pestanejar dos olhos.

Secundo os que o chamam, enquanto o olhar atento de soslaio me revelam uma imagem em quase tudo semelhante à que me fora familiar em tempos, qual a de meu pai.
Afago-o anonimamente, e quando lhe tomo as pernas nas mãos em busca de eventuais lesões, eis que aquele corpo surpreende e ganha vida e recupera o vigor que o faz levanta-se e caminhar indiferente aos presentes como se fosse levado por uma força que o fazia viver.

Afastou-se tão rápido, quanto inesperado chegara ao acaso dos que o socorreram, e a memória daquele homem caído seguiu-lhe o rasto, espelhado na sombra dos que estiveram ali com ele.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Conversas em vão


«Na sala pequenos grupos orbitavam cabisbaixos em torno do féretro, o qual embalava nas mãos um pequeno ramo de rosas brancas de uma paz profunda que duas mulheres aí depositaram num gesto maternal. Uma delas segura nas mãos um par de luvas brancas que ora entrega a outra igualmente presente, num gesto missionário que ambas entendem em silêncio.
Pouco adiante, num balde de lata, folhas contorcem-se em labaredas que consomem imagens, manuscritos e desenhos num esforço testamentado para apagar da memória o que não fora lembrado em vida.

Ao som da "Toccata e Fuga de Bach", as vozes fazem coro baixo em perguntas e respostas que as bocas escondem da razão, no teatro burlesco da vida, onde a morte impõe um respeito final.

- Mas sabes o que realmente aconteceu ?
- Sei, mas não estava à espera. Ainda ontem reparei que me tinha tentado ligar, mas eu tinha o telefone desligado.
- Pois a mim também me enviou uma mensagem mas como não tinha saldo no telemóvel, pensava ligar-lhe hoje ou amanhã.
- Para mim foi uma total surpresa, porque embora não o visse há muito tempo, andava há tempos para o visitar, mas sabes como é a vida, nunca temos tempo para nada.
- Porque raio aconteceu aquilo, sempre lhe disse que se precisasse, podia contar comigo fosse para o que fosse, bastaria ligar-me. Mesmo que não atendesse o telefone na hora, podia sempre procurar-me.
- Pois é, a mim ligou-me mas eu na altura estava acompanhada e não podia atender, pensava fazê-lo mais tarde mas entretanto também não tive oportunidade.
- Que merda de vida, logo havia de acontecer isto. De facto há já algum tempo que o via algo triste, mas nem quis perguntar-lhe nada porque podia ser apenas uma fase passageira.
- Pois é, eu também notei isso, e disse-lhe sempre que me podia ligar sempre que quisesse desabafar, fosse a que horas fosse. Eu só de manhã é que vi que ele ligou ontem, mas como tomei o comprimido para dormir nem sequer ouvi o telemóvel.
- É curioso que ele na verdade ele nem tinha família, mas havia quase sempre gente a procurá-lo por isto ou por aquilo, porque ele tinha jeito para desenrascar, quando alguém precisava de qualquer coisa.
- Eu gostava muito dele, estava sempre disponível para ajudar e a alegrar os outros e vou sentir a falta dele, embora já não estivesse com ele há bastante tempo e nem soubesse o que se passava.
- Ele já foi, e nós temos de seguir em frente. A vida é assim.
- Pois é, é a vida.»


Esta é uma história, onde apenas a morte é uma realidade adiada, porquanto no restante, é um passado que estende no futuro através do presente. Uma história bem real, onde conhecidos se acham amigos, enquanto estes são facilmente reconhecidos.
Quantas daquelas frases de circunstância que apenas comprometem o sentimento de amizade, fazem o quotidiano da diferença entre o pensar e o agir, entre estar disponível e aparecer, entre reconhecer e ser amigo de alguém.

Um dia, perguntaram-me, como descreveria um “amigo”.
Respondi que:

“um amigo é aquele que aparece sem ser chamado, quando outros estiveram ausentes e já não se tem mais nada e não se espera ninguém”.
NOTA: Gostava que apenas os meus amigos comentassem este post.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Apenas um espaço vazio


Olho o céu e vejo nele mais uma estrela que brilha.
Deito-me e espero que ela me venha embalar o sono.
Que saudades tenho de minha mãe, que não a deixo de chorar.