Pétalas de rosa
O acaso e a vontade juntaram-se à revelia na oportunidade, trocando-lhe as voltas nas tarefas que tinha pensado realizar naquele dia e assim, acabou por converter o desejo no mando que lhe iria traçar o caminho a percorrer.
Apressou o passo, buscando no fim do dia, o tempo necessário de chegar antes que se fechassem as portas da pastelaria que com o hábito se tornara num pequeno éden onde o chá preenchia o espaço convexo das chávenas, enquanto fatias do bolo de chocolate apaladavam conversas entre olhares nos encontros de fim de dia.
Com a mesma pressa entrou e saiu, já com o bolo de aniversário na mão, arrebatando um dos exemplares que davam fama à excelência da casa que os fazia desde que se lembrava, ainda na inocência da sua meninice, quando lá ia pela mão da sua Mãe.
O caminho fez-se agora próximo, directo à florista quase alí ao lado, na escolha das rosas que iria fazer oferecer, a que a sua própria saudade, em vão emprestava um vermelho rubro de sangue, tão vivo como a memória dos aniversários que iguais já celebrara antes, agora inscritos na emoção de os reviver, fazendo viver os outros.
Saiu correndo, tão depressa como a brisa faz desfraldar as velas de vontade e fez-se ao caminho, para que o destino final conhecesse a homenagem que uma Mãe que não a sua, iria receber daqueles que o coração guarda tatuados, numa alma acostumada a dar aos outros o que a vida lhe negara a miúde.
O bolo de aniversário cumpria a função, com a cumplicidade do aroma das rosas que pequenos borrifos de água e a pressa do caminho fizeram conservar na frescura da intenção da oferta e que agora repousavam numa jarra diante da janela, cujo parapeito parecia um pequeno altar aos que à distância, o pensamento aproximou.
Os dias passam-lhe ao sabor de um sorriso ligeiro, com que ia regando as rosas, que se iam abrindo num espreguiçar tingido pelos raios de sol que atravessavam a vidraça entreaberta, por onde sorrateira uma aragem leve entrara, tomando de caminho um rosário de pétalas, espalhando-as pelo chão, como se uma mão invisível traísse o acaso, para com elas formar as letras de um nome que ausente, lhe era familiar no aroma que continuava no ar, igual ao de um beijo de Mãe.
2 comentários:
Bela e mui sentida homenagem.
Adorei estas palavras.
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