Diálogo com o silêncio …
Sentaram-se os dois à mesa do café, ele com um olhar sereno e um sorriso quase dissimulado, enquanto diante dele, ela assumia um olhar inquieto com as mãos finas sobre a mesa que se interpondo entre os dois, os apartava condescendente aos olhares que sobre ela se encontravam.
- Li o que escreveste e sinceramente não sei o que te dizer. Senti-me esmagada com as palavras. Ao ler aquele texto quase se consegue imaginar tudo o que se passou. Entendo que mais do que amor enorme, tinhas uma admiração profunda por ela, por tudo quanto ela passou durante toda a vida, que poucos poderão imaginar.
- Agora tudo faz parte dum passado, porque ainda ainda o transportas contigo, numa caminhada solitária ? Sei que foste perdendo todos os que te rodeavam, mas não estás só. Tens à tua volta pessoas que gostam de ti e sabes que gostam. Tens um coração enorme onde elas estão e de quem gostas profundamente.
- Quando é que vais conseguir libertar desse sofrimento que transportaste dos outros para ti mesmo ? Quando acabará essa herança que carregas só ?
Ele observava-a com os olhos, que algumas lágrimas dissimuladas a custo, conseguiam polir num brilho ondulado, ao sabor do mesmo sorriso com que chegou.
Saía-lhe pela boca o mesmo silêncio que ouvira tantas vezes na memória, como resposta às mesmas perguntas a que nem a alma nem o tempo haviam sabido ainda responder, num diálogo calado com a sorte.
2 comentários:
Nem sempre o silêncio é um mau presságio.
Existem coisas que se falam no silêncio que nenhuma palavra ousaria corrigir.
Eu pessoalmente acho que o silêncio é preferível a ouvir coisas que não servem para engrandecer quem as ouve muito menos quem as diz.
Mas isto sou eu a dialogar em silêncio… Porque as pessoas não são todas iguais!
Nada como termos quem entenda os nossos silêncios...
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