quarta-feira, setembro 10, 2008

O reflexo do Sol

A pequena Yamka corria pelos vales que a primavera todos os anos salpicava com as cores que o arco-íris oferecia diariamente no engalanar das cascatas por onde ribeiros e riachos cantavam em coro com o piar do condor e o uivo do coiote nas encostas sobranceiras ao vale, onde ervas e flores se curvavam gentilmente aos pequenos mocassins de pele de veado que albergavam os pezitos travessos nas corridas.

O regresso a casa fazia-se com o hábito do reencontro familiar a que uma mão cheia de flores tornava mais solene a ocasião que o aconchego materno enfeitava com expressões emprestadas de surpresa pela beleza que se repetia nos ramos improvisados que as pequenas mãozitas estendiam entre a excitação do sorriso acompanhado por dois olhos abertos como duas pequenas luas cheias brilhando numa noite transformada em dias soalheiros.

Entre todas as flores, Yamka incluía sempre um girassol, que fora desde sempre a sua flor preferida e que por isso, fazia questão a de escolher entre as restantes para que o pai lha prendesse nas longas tranças escuras que lhe descaíam por sobre os ombros.

- Mamã, porque é que o girassol é igual ao sol ? Perguntou a pequenina, no reparo insuspeito e inocente sobre o olhar atento da descoberta de tudo o que o rodeia.
- Sabes, quando o Grande Espírito criou o mundo e colocou o sol no céu, reparou que uma pequena flor se apaixonou pelo sol, olhando continuamente para ele. Com o passar dos dias a flor foi crescendo mas continuava a olhar o céu em busca do sol que amava. De tanto o olhar, a pequena flor foi-se transformando, até que por amor, se tornou como ele e desde então essa flor ficou conhecida com a forma e o nome do girassol.

Saciada com a explicação, a pequena Yamka devolveu a atenção á sua paixão pelas flores, em particular pelos girassóis a que queria mais que às outras. À sua semelhança, também ela foi crescendo ao ritmo da cadência das primaveras e os ramos de flores que então colhia, também iam sendo maiores e quando olhou o lençol de água do pequeno regato que atravessava a aldeia, reparou que os longos cabelos escuros que herdara da mãe à semelhança das demais que caracterizavam os da sua tribo, haviam dado lugar a pequenos caracóis dourados que lhe decoravam a face, fazendo dela, mais uma entre as flores que segurava na mão.

Sobre elas, o sol estendia-se qual pai ao abraçar os filhos no aconchego dos que lhe são iguais.

1 comentário:

cαтια. disse...

Muito belo. Adoro girassóis! :)
Beijinho*