sexta-feira, setembro 26, 2008

Aquele abraço ...

A boca guarda o silêncio enquanto a nostalgia atiça o pensamento que a lembrança faz dar à costa em marés de pequenas vagas a que lágrimas invisíveis emprestam de quando em vez o sabor salino da saudade que o Outono prometeu lavar nas margens do tempo.

Embora o vento suão abafe tudo e todos numa nuvem quente de calor, o frio faz-se sentir no entanto, como facadas no pano estendido que cobre o cenário em redor cor de mel.

Como faz frio, meu Deus. Os braços vão-se arqueando em redor do corpo que treme ao ritmo do cerrar dos dentes e os olhos fecham-se na esperança da implosão do mundo para que de tudo reste um ponto apenas no espaço entre aqui e o além.

Apenas queria um abraço de alguém. Aquele abraço ...
Como faz frio às vezes, meu Deus, sempre que o Inverno teima em voltar ...

4 comentários:

Sha disse...

É teu. Sente-o.

cαтια. disse...

Fico abismada com as suas palavras. Adoro os seus textos.

Beijo*

Um Momento disse...

Abraço...te...
(*)

Ni disse...

«Como faz frio às vezes, meu Deus, sempre que o Inverno teima em voltar ...»

Como gelam as gotas de luz, que dos meus olhos voam... asas petrificadas, suspensas no tempo, como palavras adiadas.
Como o silêncio é manto branco que me faz rainha de um reino naufragado... um coração inocente, porém negado. Como as estrelas mudaram as posições, os nomes... seguindo a galáxia das solidões.
Como os barcos repousam em águas de sal, sem leme... velas brancas despidas, luas minguantes...como quem de dor geme.
Como faz frio às vezes, meu Deus, sempre que o Inverno teima em voltar...

Abraço... em silêncio, em verdade, em pureza.

Sinto-te.