Um Luar de líros azuis
Sempre que perdia alguém importante, plantava uma árvore. Assim, voltou a fazê-lo mais uma vez. Desta vez, não na sequência do rito de um funeral em que se tivesse sentido acompanhado, mas numa perda a que o aconchego do choro não fora consentido.
Escolhera na homenagem uma pequena azinheira, árvore que já acolhera desde aparições a pecadores, já alimentara gentes e animais e onde a forma dos seus troncos e ramos recordam os caprichos da vida, serpenteando em direcção ao céu, tomando todo o sol em redor, devolvendo-o na forma de sombra aos que aí se abrigam.
Desde ela e em seu redor, plantara todos os lírios azuis que encontrara, numa despedida que estendera pela planície circundante, até muito mais além dos montes que formavam o horizonte.
Colocara na base uma pequena caixa feita de madeira de acácia, que revestira com um lenço sagrado de seda pura, bordado de cumplicidade, onde guardou um nome, que embrulhara suavemente em sons, sentimentos, abraços, palavras e uma tatuagem que guardara ciosamente para dias festivos que não chegaram, a que juntara uma parte do coração que agora batia em silêncio e que depositava também cerimoniosamente com beijos ternos de despedida.
Sabia assim que a sua árvore não ficaria só e viria todas as noites ao luar, guardá-la enquanto observava as flores do campo, aprendendo com elas a esperança de que o dia seguinte traria de novo o Sol, que ele, também aguardava serenamente enquanto lhe entregava o último abraço numa despedida que não desejara eterna.
3 comentários:
Segredos guardados na beleza dos lirios porque do coração. À guarda de uma árvore para os tornar eternos.
Beijos
Olá Rui!
Um gesto único de amor.
Beijo
Azul
Abraço-te
(*)
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