quinta-feira, julho 26, 2007

O oráculo da terra


Quase todos nós temos uma flor preferida, aquela cuja visão nos faz sorrir, aquela cujo odor se torna tão especial.
A minha desde sempre foi a “Rosa Chinesa”, também conhecida por “Hibisco” ou “Hibiscus Sinensis”, em especial o de cor amarela.
Esta devoção levara-me a tentar, vezes sem conta a procurar manter esta espécie no meu jardim, mas o insucesso teimou sempre em se sobrepor à minha vontade, qual sina impossível de contrariar.

Há algum tempo, a paixão ressurgiu perante um magnífico exemplar que me deixou encantado na forma e beleza das flores. A vontade matou a indecisão e o momento de a plantar num vaso especial não tardou.
Dia após dia, belas flores amarelas decoravam o espreguiçar de pequenos ramos que apontavam ao Sol como alegres sorrisos em silêncio que apenas os olhos escutavam.

Inevitavelmente parasitas tomaram conta das flores, como invasores profanando aqueles pequenos templos de beleza. Breve foi a decisão de proteger aqueles espaços sagrados com medidas e aplicação de desinfestantes, cuja vontade foi maior que a cautela e em breve, flores e folhas abandonariam lentamente os mesmos ramos que outrora floriam com entusiasmo e agora limitavam-se a uma mumificação desconcertante.
A minha planta morria lentamente e a impotência de não poder fazer nada acompanhava aquele cortejo fúnebre de queda de folhas e flores que abandonavam à terra num anúncio de morte.

Já sem folhas nem flores, pequenos ramos secavam, inertes e despidos, que um carinho escondido teimava em regar e recusava-se a cortar, semanas a fio, mesmo ante o veredicto conhecedor e infalível do jardineiro, que a sorte cruelmente confirmara nas tentativas anteriores.

Um dia de manhã, quando já a sorte e a falta de vontade de fazer o que quer que fosse acompanhavam o desânimo de tudo e de todos, daqueles pequenos ramos surgiram pequenos pontos verdes, que horas depois se denunciaram em folhas igualmente pequenas, de um verde aberto e firme, fazendo anunciar ao mundo um renascimento que desejando, não entendia.
Em pouco tempo, daqueles ramos secos as pequenas folhas sucederam-se e num dia mais intenso, alguns ramos mais entusiasmados com o Sol, ofereceram as primeiras flores amarelas que os meus olhos ouviram numa mensagem de prenúncio e de tenacidade daquele sábio oráculo da terra.

6 comentários:

Azul disse...

Olá meu Doce e Querido Amigo!

É tão bom, tão bom mesmo ter-te de volta.

Há sempre um dia que algo ou alguém nos demonstra que nunca devemos deixar de acreditar.

Beijo para ti
E um abraço carinhoso
Azul

Sha disse...

As flores sorriem sempre,
sobretudo as amarelas.

Um beijo com sabor a sha.

blue disse...

Mais uma coisa que aprendi sobre ti... além de jardineiro... és perceverante :)

Beijinhos

Gasolina disse...

O teu retrato.

Obrigado por mo mostrares.

Deixo-te um beijo, acompanhado das minhas flores favoritas: rosas, jarros e orquídeas.

Gasolina disse...

Voltei para te desejar um fim de semana lindo, com pequenas hastes verdes a romperem secos troncos.

Um beijinho.

Paula Raposo disse...

Um texto cheio de sensibilidade, como todos aqueles com que já nos habituaste...eu gosto de túlipas e rosas, mas não percebo nada de tratar de flores. Até as plantas que teimei em ter em casa, morrem todas. Muitos beijos.