quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Conversas em vão


«Na sala pequenos grupos orbitavam cabisbaixos em torno do féretro, o qual embalava nas mãos um pequeno ramo de rosas brancas de uma paz profunda que duas mulheres aí depositaram num gesto maternal. Uma delas segura nas mãos um par de luvas brancas que ora entrega a outra igualmente presente, num gesto missionário que ambas entendem em silêncio.
Pouco adiante, num balde de lata, folhas contorcem-se em labaredas que consomem imagens, manuscritos e desenhos num esforço testamentado para apagar da memória o que não fora lembrado em vida.

Ao som da "Toccata e Fuga de Bach", as vozes fazem coro baixo em perguntas e respostas que as bocas escondem da razão, no teatro burlesco da vida, onde a morte impõe um respeito final.

- Mas sabes o que realmente aconteceu ?
- Sei, mas não estava à espera. Ainda ontem reparei que me tinha tentado ligar, mas eu tinha o telefone desligado.
- Pois a mim também me enviou uma mensagem mas como não tinha saldo no telemóvel, pensava ligar-lhe hoje ou amanhã.
- Para mim foi uma total surpresa, porque embora não o visse há muito tempo, andava há tempos para o visitar, mas sabes como é a vida, nunca temos tempo para nada.
- Porque raio aconteceu aquilo, sempre lhe disse que se precisasse, podia contar comigo fosse para o que fosse, bastaria ligar-me. Mesmo que não atendesse o telefone na hora, podia sempre procurar-me.
- Pois é, a mim ligou-me mas eu na altura estava acompanhada e não podia atender, pensava fazê-lo mais tarde mas entretanto também não tive oportunidade.
- Que merda de vida, logo havia de acontecer isto. De facto há já algum tempo que o via algo triste, mas nem quis perguntar-lhe nada porque podia ser apenas uma fase passageira.
- Pois é, eu também notei isso, e disse-lhe sempre que me podia ligar sempre que quisesse desabafar, fosse a que horas fosse. Eu só de manhã é que vi que ele ligou ontem, mas como tomei o comprimido para dormir nem sequer ouvi o telemóvel.
- É curioso que ele na verdade ele nem tinha família, mas havia quase sempre gente a procurá-lo por isto ou por aquilo, porque ele tinha jeito para desenrascar, quando alguém precisava de qualquer coisa.
- Eu gostava muito dele, estava sempre disponível para ajudar e a alegrar os outros e vou sentir a falta dele, embora já não estivesse com ele há bastante tempo e nem soubesse o que se passava.
- Ele já foi, e nós temos de seguir em frente. A vida é assim.
- Pois é, é a vida.»


Esta é uma história, onde apenas a morte é uma realidade adiada, porquanto no restante, é um passado que estende no futuro através do presente. Uma história bem real, onde conhecidos se acham amigos, enquanto estes são facilmente reconhecidos.
Quantas daquelas frases de circunstância que apenas comprometem o sentimento de amizade, fazem o quotidiano da diferença entre o pensar e o agir, entre estar disponível e aparecer, entre reconhecer e ser amigo de alguém.

Um dia, perguntaram-me, como descreveria um “amigo”.
Respondi que:

“um amigo é aquele que aparece sem ser chamado, quando outros estiveram ausentes e já não se tem mais nada e não se espera ninguém”.
NOTA: Gostava que apenas os meus amigos comentassem este post.

9 comentários:

Anónimo disse...

When I fall in love it will be forever!
When I give my heart it will be completely!

Maria Carvalho disse...

Aqui estou. Conversas de circunstância, cheias de nada! Beijos, Rui.

Maria Azenha disse...

" As árvores conhecem-se pelos frutos", tudo o mais não interessa.
Paz Profunda,

***maat

Zeca disse...

Pode ser que um dia deixemos de nos falar... mas enquanto existir amizade tenho a certeza que faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe, mas se a amizade permanecer, um do outro nos havemos de lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos por as mais variadas razões, mas se formos amigos de verdade a amizade há-de nos reaproximar de novo.

Pode ser que um dia tudo acabe,
mas com a amizade construiremos
tudo novamente.

É bom ter um amigo como tu.
Fernando

Ana Luar disse...

Estou aqui........

Ni disse...

Olá...
...

Sei que pediste para que apenas amigos(as)comentassem este post...

... é ousadia estar a fazê-lo... mas faço-o como se entrasse num templo sagrado...
...
Trago na mão esquerda areia... e na direita uma tulipa amarela... (a a areia tem memórias imortalizadas de conchas e marés, e luas reflectidas... ondulantes... assim como a água e o sal de todos os mares... e absorveu o silêncio do deserto... sabias que não há dois silêncios iguais? Sabias...
A tulipa amarela... porque sim... porque a beleza justifica-se a ela mesma, não se explica. Também sabias...)...

...

Um amigo derrama nos nossos olhos a verdade de quem somos... e anula as solidões milenares, ao longo de tantas vidas somadas...
Quando te 'sentires em casa', com uma vontade de sorrir, que supera todas as tuas dores... ainda que seja por um ínfimo momento (e tudo é apenas um momento...)... podes murmurar bem alto a palavra AMIGO/A...

É rara. Tão rara!

Segura-a na tua mão... escorre do meu olhar.

Sorriso.

Abraço de vento suave

Ni*

Anónimo disse...

não querendo comentar, não quiz no entanto deixar de estar presente por seres um amigo q muito considero e respeito

anselmo

Lia disse...

Uma amizade verdadeira...é um tesouro que não se pode perder.
Deixo-te um beijo*

Anónimo disse...

pipilkikjdsafvv
esta declaração é para leres de olhos frechados com frechas de lejas lontana por tu manana
qui seras sera