sábado, novembro 01, 2008

Em silêncio póstumo

Viu Hades feita à força a vontade que foi sua,
No aplauso que Perséfone fez por igual ouvir,
Foi na calada da noite, que ao abrigo da lua,
Tanatos e Hypnos de manso se fizeram sentir.
Estes que antes igual a coberto de nefasto dia,
Haviam já cobrado quem por quem já se sofria.

Mas se Hecate viu saber feito o seu intento,
E a morte tomados aqueles como Tífon fez,
Nem Ares nem Poseídon chegarão a ter contento
No rugir do rasgar dos céus, quando for minha a vez.
Ficou tão só o silêncio dos que adormeceram já,
Que é meu também igual aos que já não estão cá.

E se a alma não souber dizer palavra alguma,
Que não seja por não saber sentir ou falar.
Seja antes por não haver das palavras nenhuma,
Que saiba dizer o que o peito mais quer calar.
São hoje lentos os passos entre campas rasas,
Quantos pesam no corpo, a que a consciência pôs asas

Tomem-se nas flores, as que sejam mais sagradas,
Em que igual se torna por ali estar quem as tem,
A Pai sejam cravos e a Mãe as rosas sejam dadas,
E ambos à Filha entreguem aqui destas também.
Sejam por fim a família que além onde juntos estão,
Que aqui vos guarda quem na vida o quis em vão.