sexta-feira, novembro 28, 2008

A assinatura

O silêncio tinha uma tonalidade cor de pérola e ambas as mãos sobre a mesa pareciam guardiãs resolutas e mudas de uma vontade que não as fazia sequer tremer.
Tão natural como respirar, uma delas tomou a caneta e traçou um bailado repetido e ensaiado mil vezes, deixando a marca conhecida e reconhecida dos passos que os dedos aprenderam a adestrar.

Ambos estavam presentes de um e do outro lado da mesa, quietos e presentes e a emoção foi a única que não fora chamada a testemunhar o momento, diz-se porque tenha ficado há muito pelo caminho que os conduzira ali naquela hora.

O frio entrou pela porta de casa que se abriu, para se juntar ao da sala onde as mãos iniciadas tomaram as folhas brancas e traçadas a coberto dos olhares para as levarem onde o mundo lhes fizesse de facto a decisão tomada.
De saída, a chuva a cair dava voz aos passos únicos de passeio enquanto as mãos nas algibeiras procuravam o calor solitário que o peito já remetera para o passado como se o mundo já tivesse sido todo feito de neve e gelo que ora o degelo testemunhava.
Chegasse a noite para se esperar apenas pela manhã.

3 comentários:

Sha disse...

E em cada reviravolta da caneta, uns olhinhos ternos e expressivos nos assolam a alma e nos quebram o espírito em mil pedaços... como o degelo repentino que não permite o derreter do coração...

Anónimo disse...

Gosto de ti... Muito!

impulsos disse...

Maravilhosa escrita esta, que se lê com prazer e se chega ao fim com vontade de ler mais...

Adorei!

Beijo