quarta-feira, junho 04, 2008

Não sou desse país

Abriu a janela da marquise e com esforço conseguiu prender a haste branca ao suporte das roldanas que a custo, procuravam esticar, elas a corda onde estendia a roupa e ela a resistência com que ia superando os dias que alimentava com o salário que venerava no emprego que a precaridade da vida lhe reservava.

Esticou-se o mais que poude para que a pequena bandeira pudesse destacar-se da roupa e ficasse bem visível naqual depositara o orgulho seu, que também era nacional. Gostava que a sua bandeira fosse grande, tão grande como todos os braços abertos, embora acabasse por comprar aquela, que embora mais pequena, fora acarinhada desde a loja dos chineses que a vendera apenas a um euro. Não era perfeita e até lhe disseram que parecia não estar bem feita, mas era a sua e que coisa, afinal era um bandeira portuguesa como as outras.
Era uma bandeira numa janela de uma marquise de uma casa portuguesa como tantos milhões de casas, famílias e bandeiras.

E eu, tenho uma casa, uma marquise com uma janela, mas não tem a bandeira desse país.
Afinal, nem desse nem de qualquer outro, onde o acaso me fizesse nascer para arremesso de quaisquer outros que nascessem mais além.
Afinal, eu também não quero ser desse país.
Quero ser ser de um país onde os homens sejm livres e iguais e se juntem à sombra das acácias num convívio fraterno. Quero ser de um país onde as cruzes simbolizem apenas os homens que cultivam rosas numa paz profunda.

Não quero um país que quer que a educação se pague por quem possa pagar;
Não quero um país que quer que a saúde se pague por quem possa pagar;
Não quero um país que converte a alimentar Pintos da Costa e Valentins Loureiros;
Não quero um país onde as ambulâncias parem por falta de médicos;
Não quero um país onde as pessoas morram por falta de assistência médica;
Não quero um país que abandona os seus idosos depois de se ter alimentado deles;
Não quero um país que exalta políticos envolvidos em escândalos;
Não quero um país que exalta ministros que proclamam leis que desprezam;
Não quero um país que exalta presidentes-cabides com magistraturas de influência;
Não quero um país complacente com pedófilos;
Não quero um país que cobra IVA a quem vende e não cobra e dá a quem não paga;
Não quero um país que colabora com o cartel do petróleo;
Não quero um país que fecha escolas e centro de saúde com base em estatísticas;
Não quero um país que não tem dinheiro para hospitais e escolas e compra submarinos;
Não quero um país com doentes a tratar em Cuba e Espanha por falta de recursos;
Não quero um país que acentua a diferença entre ricos e pobres;
Não quero um país complacente com a máfia de falsas igrejas;
Não quero um país plantado de estádios de futebol inúteis mas com falta de hospitais e escolas;
Não quero um país com canais de televisão mas sem cultura;
Não quero um país de fado, futebol e Fátima mas sem educação;
Não quero um país sem futuro e com um presente que vive apenas do passado;
Não quero um país de desigualdades instituídas;
Não quero um país com bandeiras tingidas por lágrimas de gente que sofre inocente enquanto, sem razão, alimenta os que conhecem as bandeiras mas não os homens que as carregam.
...
Não, não sou desse país. A minha pátria é o Mundo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Partilho da tua opinião. É uma TRETA viver neste Planeta.

Pelos vistos, terás de ir para outro Planeta ou até outra galáxia, para te libertares destas TRETAS todas.

Mas toma cuidado, pois os marciannos podem aprender as nossas TRETAS com facilidade, e adoptá-las rapidamente.

O melhor é ficares mesmo pela TRETA deste país, pois pelo menos, somos pacíficos, compreensivos, sentimentais, hospitaleiros, temos sol, praia, campo... enfim, temos essas TRETAS todas que os estrangeiros sempre apreciam, mas não se esforçam por ter.

Um abraço da TRETA.

Tretoso Mor

Anónimo disse...

Acredito que um dia viveremos num país assim!

Por enquanto há que manifestar desagrado e fazer algo para mudar...

Um país sem lágrimas, sem fome, sem crianças tristes, e maltratadas, quero esse país aqui e agora!

Anónimo disse...

ps: só um aparte...arrepiei com a música de fundo!
alvalade 94...a loucura!( hey you out there...)

Anónimo disse...

Então meu querido amigo,nem deste mundo tu queres ser... pk o mundo está igualzinho ao nosso país.

Eu tb ando zangada como os dirigentes com o povo por ser tão acomodado........ mas confesso que sou patriota a ponto de comprar a tal bandeirinha vermelha e verde nos chinokitas é claro, pk o meu dinheiro tb não dá para mais (risos)... Tb eu a coloquei na minha varanda e tb no meu carro... (e já ma roubaram GATUNOS) e juro que tb gritarei GOLLLLLLLLLLLOOOOOOOOOOOO pk é das poucas alegrias que Portugal nos dá. E enquanto eu torcer por alguma coisa será sinal de que estou viva.............

Que venham os golos de Portugal...
.. que venham as pequenas alegrias da vida...

Eu confesso: Sou uma adepta vestidinha de verde e vermelho da cabeça aos pés........ e vibro com o futebol, com a imperial, os caracois, a maçaroca de milho em manteiga,os santos populares (e nem sou religiosa) com as grandes manifes, os arraiais, com os ajuntamentos, com os abraços, com as lágrimas, essencialmente com o povo.

O meu povo... Aquele que não escolhi mas que aprendi a amar do jeito que é.

Não vou exigir perfeição quando eu tb não sou perfeita....

Deixo um abraço de gente que ama e sente como toda a boa gente.
:)

a ti e à minha selecção.


Viva Portugal!

(especialmente o Simão) rsrsrsrsr




Ana Luar