segunda-feira, abril 14, 2008

Se o meu silêncio se ouvisse


Se o meu silêncio se ouvisse,
ouviam-se vozes de revolta.
Entravam nos templos os excluídos, para aceder aos altares dos santos.
Tiravam os véus os crentes, numa oração sincera de cara descoberta diante dos deuses;

Se o meu silêncio se ouvisse,
ouvia-se o choro mudo de crianças que não brincam.
Agarravam os anciãos, nas espoletas da mentira com que os falsos profetas alimentam o mundo, num deflagrar de expiação;

Se o meu silêncio se ouvisse,
ouviam-se no vento, gritos de saudade dos que foram e não partiram e dos que partem mas não se vão.
E a vida deixava a forma das marés que vai e volta em ondas de saudade;

Se o meu silêncio se ouvisse,
os meus braços iam mais além e as minhas mãos chegavam dentro de mim.
E o meu rosto mostrava nos olhos o olhar vazio do céu, enquanto caiem estrelas como rosas amarelas;

Se o meu silêncio se ouvisse,
a minha alma chegava mais além.
E eu, não seria mais que ninguém,
se o meu silêncio se ouvisse.

3 comentários:

Sha disse...

No silêncio as palavras são raras... mas têm o perfume e a forma dos pensamentos mais puros e profundos.

por uma lágrima disse...

Depois de te ler...
Se o meu silêncio se ouvisse...
Irias entender a razão de algumas lágrimas...

Beijo

Ana Luar disse...

Se o meu silêncio se ouvisse... tinhas aprendido tudo aquilo que eu desaprendi.