Mas naquele dia, era apenas na vontade que voltassem os que lhe pudessem ensinar o que não chegara a aprender até então, que o fazia sentar-se ali numa esperança vã de resposta.
Observar, ouvir e aprender, fora sempre a sua caixa de ferramentas, a princípio na inocência de menino aprendiz de tudo o que a vida ainda lhe tinha para ensinar, mais tarde na mestria que todos lhe confiavam pela idade adulta.
Ainda tinha presente na memória, os momentos que a par com as corridas e voltas de bicicleta, olhava curioso, fosse as batidas nos aros que uniam as aduelas, que homens atarefados acometiam barris, pipas e dornas no armazém em frente à sua casa, fosse o esforço vigoroso do sapateiro ao fundo da rua, no manipular sábio das cevelas de meia-cana feitas das varetas dos chapéus e das facas afiadas aproveitadas das folhas de serra.
Tudo era visual e cuidadosamente registado na sua memória, como uma sequência de imagens que ia colando na caderneta de conhecimentos vários, duma colecção que não acabava.
As palavras, essas, ia-as inscrevendo na memória dos sons, a que se juntavam todos os que lhe ocupavam a recordação, quer das velhas canções e fados a que a voz materna emprestava melodias outrora habituais nos serões familiares, quer de todos e cada um dos sons que se lhe haviam tornado comuns e constantes na casa onde crescera, desde o tic-tac do velho relógio de sala, até aos sons metálicos e secos do toque das panelas na cozinha.
À sua volta tudo era absorvido, num acto de insaciável de aprender, tanto quanto a sua vista e atenção fossem capazes de alcançar, fosse apenas por esperteza ou pela inteligência que atribuíam àqueles olhos vivos e irrequietos, numa busca constante.
Mais tarde, já adulto, na inversão do entendimento, menos julgavam ensinar-lhe e mais aprender com ele. De filho e criança aprendiz, passara à idade adulta, para ensinar tudo o que a vida lhe havia ensinado e o que entretanto havia aprendido, aspirando por isso, à condição do mestre, que alguns lhe chamavam agora.
Mas naquele dia ele não sabia as respostas. Aquele pequeno ser diante de si, continha todas as perguntas e todo o conhecimento ancestral que o mundo havia compilado num espaço tão pequeno, que nem todo o universo chegaria para preencher. Ali e naquele momento, voltara da condição de Mestre à de Aprendiz.
Ali, tinha de novo tudo por aprender, agora que se tornara Pai.
Querido amigo, tenho andado um bocado atarefada,mas é sempre bom revisitar uma casa que sempre me acolheu bem.
ResponderEliminarUm fraterno abraço
R
Parabéns pelo seu blog.
ResponderEliminarGostei de estar neste espaço.
Um abraço
Maria Souza
"...Ali, tinha de novo tudo por aprender, agora que se tornara Pai."
ResponderEliminar"Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças..."
(Poema de Miguel Torga)
Um grande abraço e recomeça em Felicidade, porque um Filho é isso mesmo.