quarta-feira, março 04, 2009

Pretium doloris

Chamou Zeus deuses e homens a terreiro,

Na hora e momento que achou por direito,

Na chegada do dia quarto do mês terceiro,

Tornando o espaço das margens ali mais estreito,

Para que chegassem todos sem que primeiro,

Afastassem quem inocente estivesse no peito.

Tomou então Cronos conta do tempo,

Enquanto Ares ali tomou igual assento.

Eram uns e outros que à volta ficaram,

Daquela, como outra mesa em altar se fizesse,

Separando o que apenas homens juntaram,

Menos um Deus que não levaram, ali estivesse,

E porque de vez, juntos, uns arrasaram,

Tudo o que na memória ainda houvesse,

Eis que presentes, o nome inscreveram,

Nas sortes dos que ausentes antecederam.

Afastada das sortes Afrodite se lamentava,

Pelo que perdera e mais não achara,

Fez o caminho que Héstia já desbravava

No peito e lar vazios que também tomara,

Eis que da ira ao olhar vago tudo estava,

Devolvendo às mãos de quem ignorara,

Vieram ao pensar causas mais antigas,

Que muito mais foram que meras brigas,

Foi então que Hades da morte, ainda dorido,

Se fez chegar ao recanto da memória,

Invocando na dor quem tivesse já partido,

Mas que ali houvera de fazer também história,

De tudo o que havia sido já sofrido,

Tanto que pelo mal, ninguém tem glória.

Diz-se por isso que não haverá bem que sempre dure,

Nem maleita que mais que aquele haja ou perdure.

Terminado o preceito, Zeus se levantou,

Dizendo aos que estando assim ouviram,

Sigam caminhos diversos quem aqui assentou,

Que justo e certo foi feito aos que tudo isto viram,

E porque dúvida não existe nem restou,

Seja a deuses ou a homens que o decidiram,

Seja para sempre, o que à memória o tempo traz,

Seja sempre justo, todo aquele que por bem faz.

(R.N. Almada, 4-3-2009)

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